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quarta-feira, 5 de abril de 2017
Publico aqui minha tradução do texto The Sudbury Model of Education,
de Jeffery Colins, da Hudson Valley Sudbury School, com sua autorização
(e agradeço Bruce Smith pelo contato com o autor). Ele apresenta um
resumo dos princípios e práticas que caracterizam esse modelo de
educação escolar. "Modelo" pode cheirar à receita pronta, mas acho que
não é o caso. É um método, um jeito de fazer e, desde que tenha alguém
fazendo algo, tem um método envolvido. Muitas vezes é algo implícito
("Ah, faço do meu jeito, não sei explicar..."), às vezes, explícito.
Esse texto é justamente a tentativa de explicitar algo que, na prática,
tem muito mais riqueza, detalhe, sutilezas e dificuldades. Acredito que
um modelo possa servir de norte, de guia, de lembrete quando surgem
dúvidas sobre qual caminho seguir. Não acho que deva ser um conjunto de
dogmas inquestionáveis, superiores à prática e aos indivíduos que
vivenciam as situações. Mas sua explicitação ajuda inclusive a refletir e
questionar o próprio fazer, quando isso se faz necessário. Além disso,
pode nos levar a repensar outras coisas, outros temas que aparecem aqui:
escola, educação, relação adulto-criança/jovem etc. Boa leitura!


O Modelo
Sudbury de Educação
Jeffery A. Collins (Hudson Valley Sudbury School)
Disponível em:
http://sudburyschool.com/articles/sudbury-model-education
Tradução de Luís Gustavo
Guadalupe Silveira
O
Espectro da Responsabilidade
            A diferença fundamental entre uma
escola Sudbury e qualquer outro tipo de escola é o nível de responsabilidade
dos estudantes. Numa escola Sudbury, os estudantes são os únicos responsáveis
por sua educação, seu aprendizado, sua avaliação e seu ambiente.
Numa
escola pública, o Estado é responsável pela maioria dos aspectos da educação
dos estudantes, incluindo o currículo e a avaliação. O estudante tem pouca
responsabilidade e deve aprender o que é ensinado, do modo como é ensinado, no
ambiente em que é ensinado e por fim deve repetir tudo na hora da avaliação.
            Numa escola particular tradicional,
os administradores têm um papel maior na determinação do currículo, se
comparados aos administradores da escola pública. Em algumas escolas
particulares, a escola é responsável pela avaliação, enquanto em outras a
escola aplica testes estaduais. Na maioria das escolas particulares, como nas
públicas, o estudante é pessoalmente responsável somente por aprender o que
outra pessoa determina que é importante aprender, no momento em que ela pensa
ser importante aprender isso, de um jeito que outra pessoa determinou que isso
deveria ser ensinado, num ambiente criado por outros, e os estudantes devem
realizar isso tudo de forma suficientemente boa para passar nas avaliações
elaboradas e pontuadas por outra pessoa.
            Num ambiente de homeschooling, os pais são os maiores responsáveis pela educação
dos estudantes. Em Nova Iorque e em muitos outros Estados, contudo, o Estado
ainda tem alguma responsabilidade na determinação do currículo dos homeschoolers e na sua avaliação. Eles
devem realizar testes estaduais e os pais devem preencher e entregar relatórios
de progresso para o distrito escolar local quatro vezes por ano. Como as
escolas públicas e privadas, a responsabilidade não é do estudante.
            Essas opções educacionais descrevem
uma gama de graus de responsabilidade. Esse espectro começa com o estudante e
se estende para os pais, a escola, a comunidade, os Governos Estadual e
Federal. Nós nos referimos a isso como o Espectro da Responsabilidade. Opções
educacionais com um currículo compulsório (ou seja, a maioria das escolas
públicas) tendem a ficar no final do espectro. Escolas particulares ocupam uma
porção ampla do espectro, com a filosofia educacional específica da escola
determinando exatamente onde ela fica no espectro. O homeschooling também ocupa uma porção ampla, e a filosofia
educacional dos pais é que determina o nível de responsabilidade dos
estudantes. Uma escola Sudbury é a única opção educacional em que toda a
responsabilidade está com o estudante.
A Filosofia Sudbury
            Estudantes de uma escola Sudbury têm
total controle sobre o que eles aprendem, como aprendem, seu ambiente
educacional e como eles são avaliados. Eles escolhem seu currículo. Eles
escolhem seu método de aprendizagem. Eles escolhem, por meio de um processo
democrático, como seu ambiente funciona. Eles escolhem com quem irão interagir.
Eles escolhem se, como e quando são avaliados – frequentemente eles escolhem
avaliar a si mesmos. Isso é radicalmente diferente de qualquer outra forma de
educação e é isso que diferencia uma escola Sudbury das demais.
            Por que uma escola Sudbury dá esse
nível de responsabilidade ao estudante? Pois seus educadores acreditam que as
crianças são capazes de assumir esse nível de responsabilidade. Não é um tipo
de ferramenta pedagógica usada para motivar os estudantes. A responsabilidade é
real; os estudantes têm realmente a última palavra sobre sua educação. Dar
responsabilidade real para os estudantes lhes permite ganhar a experiência de
tomar decisões e lidar com as consequências de suas escolhas. Desse modo, os
estudantes ganham experiência e maturidade.
            Grande parte do esforço atual em
educação é dedicada a tentar motivar os estudantes a aprender. Uma escola
Sudbury não faz nada para motivar os estudantes; nós acreditamos que eles são
inerentemente motivados. Nós acreditamos nisso porque todas as evidências do
desenvolvimento infantil corroboram essa tese. Qualquer um que tenha observado
um bebê tentando dar seus primeiros passos ou aprendendo a falar entende isso
com clareza. O bebê se esforça e erra e continua a tentar e a errar até que
finalmente – sozinho – pega o jeito e começa a andar e a falar. Se não for
reprimida, essa motivação interna para crescer e se desenvolver não morre
quando a criança chega à idade escolar.
            A motivação externa só é necessária
quando outra pessoa determina o que o estudante deve aprender. Quando os
estudantes determinam seu próprio currículo, a motivação externa não é
necessária. Estudos têm mostrado que pessoas que determinam sozinhas o que vão
aprender retêm significantemente melhor o assunto do que se outra pessoa
determinasse por elas.[1]
            Parece ser consenso geral em nossa
sociedade a ideia de que, se deixadas por conta própria, as crianças nunca
aprenderão nada. Deve-se dizer a elas o que é importante aprender e quando
devem aprender. Numa escola Sudbury, a equipe e os pais acreditam que os
estudantes são os únicos que devem decidir o que é importante aprender. Eles
são os responsáveis por eleger seus interesses e, afinal, seus objetivos na
vida. Há inúmeros exemplos disso numa escola Sudbury. Um dos exemplos mais
claros é o caso de uma menina que, segundo a visão da equipe da escola Sudbury,
tinha um grande talento para escrever. Durante anos após a garota ter entrado
na escola Sudbury, a equipe achava que deveria encorajá-la a se concentrar em
suas habilidades de escritora. Ao invés disso, a garota passava seu tempo
socializando com seus pares. Depois de alguns anos escrevendo muito pouco,
quase nada, a garota voltou a escrever e sua habilidade havia dado um salto
significativo em profundidade e em compreensão das emoções humanas. Ficou claro
para a equipe que seus anos se socializando não foram “desperdiçados”. Eles
foram gastos, consciente ou inconscientemente, aprendendo sobre pessoas. Quando
a equipe refletiu sobre isso, percebeu que a garota havia passado seu tempo
exatamente da maneira como ela precisava ter feito. Se a equipe tivesse
forçado, ou mesmo encorajado sutilmente, a garota a passar o tempo escrevendo,
ela provavelmente teria melhorado a mecânica de suas habilidades de escrita,
mas teria perdido a profundidade e a sensibilidade que sua escrita desenvolveu
graças à oportunidade que ela teve de se socializar e de compreender outras
pessoas.
            Ninguém numa escola Sudbury vai
dizer aos estudantes o que eles têm que aprender. Ninguém vai exercer nenhuma
pressão num estudante para que ele aprenda algum assunto. Nem ao menos sugerir
que seria uma boa ideia se um estudante aprendesse determinado assunto. Toda a
responsabilidade é deixada para os estudantes; nós chamamos isso de
Aprendizagem Iniciada pelo Estudante. Quando deixamos os estudantes decidir
sozinhos o que fazer e o que aprender, eles passam muito tempo se socializando.
Diferente de escolas com currículo compulsório, uma escola Sudbury acredita que
o tempo gasto se socializando é inestimável para a educação e o crescimento dos
estudantes.
            Uma das questões normalmente feitas
a educadores Sudbury é: “O que acontece se uma criança não quer aprender a
ler?” Nossa resposta é que isso simplesmente não acontece. É o mesmo que
perguntar: “O que acontece se uma criança não quer aprender a falar?” Em nossa
sociedade, ler é uma importante ferramenta de comunicação. As pessoas são
inerentemente motivadas para expandir sua habilidade de se comunicar, e essa
motivação interna resultará em crianças aprendendo a ler. Contudo, numa escola
Sudbury, leitura raramente é “ensinada” da maneira como pensamos que ela é normalmente
ensinada. Nenhum professor fica diante de crianças de 5 e 6 anos de idade e
decompõe as palavras em elementos fonéticos. Ao invés disso, ler é parte da
cultura – tanto quanto falar é parte da cultura. Estudantes aprendem a ler, e
em grande medida ensinam a si próprios a ler, porque querem ser capazes de
participar mais no mundo. A escola Sudbury original, a Sudbury Valley School,
existe há 36 anos [ela foi fundada em 1968, este texto é de 2004]. Ao longo
desse tempo, eles tiveram milhares de estudantes. Em toda a história da escola,
nenhuma criança deixou de aprender a ler e nenhuma teve uma aula formal de
leitura. Essa mesma experiência pode ser observada com respeito ao aprendizado
de outras coisas “básicas”, tais como escrita e matemática. Os estudantes
aprendem porque eles reconhecem que precisam aprender isso a fim de sobreviver
e prosperar dentro de sua cultura.
            Escolas Sudbury não têm avaliações
formais de seus estudantes. Não há notas nem provas. Acreditamos que a melhor
pessoa para avaliar o progresso de um estudante é o próprio estudante. Ele sabe
quando entendeu um assunto ou uma habilidade e quando não conseguiu fazê-lo. A
experiência mostra que quando um estudante se autoavalia, ele aplica um
critério muito mais rigoroso do que quando outra pessoa o avalia. Ele tende a
medir a si mesmo em relação à perfeição – não em relação ao “bom o suficiente”.
Ocasionalmente, um estudante pede por uma avaliação externa, seja por um membro
da equipe ou por outro estudante. Quando ele faz isso, exige uma crítica
honesta. O estudante não está interessado em ser enganado. Ele busca a
perfeição e quer saber se conseguiu alcançá-la.
            Numa escola Sudbury, não há
separação por idade. Todos os estudantes são livres para se misturar a outros
estudantes de qualquer idade. Numa escola com um currículo compulsório, é
necessário separar os estudantes por habilidade para que possam ser instruídos
ao mesmo tempo – a maneira mais fácil de fazer isso é supor que as crianças com
a mesma idade têm as mesmas habilidades e os mesmos interesses. Isso pode levar
ao tédio por parte de alguns estudantes se o ritmo da instrução for muito
lento, e alguns estudantes podem ficar estressados e ser eventualmente
prejudicados se o ritmo da instrução for muito rápido. Numa escola Sudbury, os
estudantes podem buscar sua educação em seu próprio ritmo, então não há nenhuma
razão para separar os estudantes por idade.
            Escolas Sudbury acreditam que há uma
grande vantagem em permitir que estudantes de idades diferentes[2] se misturem livremente. De
fato, a mistura de idades tem sido chamada nas escolas Sudbury de “arma
secreta”. Há vantagens emocionais, sociais e educacionais em permitir a mistura
entre idades diferentes. Emocionalmente, estudantes mais velhos podem assumir o
papel de irmãos ou irmãs mais velhos(as) para os estudantes mais jovens. Estes
ganham segurança e conforto por meio dessa relação. A mistura de idades
proporciona um ambiente seguro para os estudantes trabalharem suas habilidades
sociais. Estudantes que não têm confiança nessas habilidades podem praticá-las
e trabalhar para melhorá-las por meio da interação com outros estudantes, sejam
eles mais velhos ou mais novos. Estudantes de todas as idades podem ver
estudantes mais maduros ou membros da equipe como modelos de comportamento.
            Em Escolas Sudbury, é muito comum
que estudantes aprendam com outros estudantes. Algumas vezes, o estudante que
ensina é mais velho que o aprendiz, algumas vezes é o contrário ou eles têm a
mesma idade. A única constante é que tanto o aprendiz quanto o mestre melhoram
seu conhecimento sobre o assunto. Uma das melhores formas de melhorar o
conhecimento sobre algo é ensiná-lo para alguém.
            Para que os estudantes sejam capazes
de ser totalmente responsáveis por sua educação, eles devem ter – ou ao menos
compartilhar – a responsabilidade de criar seu ambiente de aprendizagem. Isso
significa que escolas Sudbury funcionam num regime de democracia participativa.
Todos os estudantes e toda a equipe (conhecidos em conjunto como Assembleia
Escolar) são parte da democracia e todos os estudantes têm voz nas discussões e
voto nas decisões. Em outras palavras, um estudante de 5 anos de idade tem a
mesma voz e o mesmo poder na escola que um membro da equipe. A equipe não tem
poder de veto das decisões tomadas pela Assembleia Escolar. O único limite é
que a Assembleia não pode fazer leis que violem as leis locais e estaduais e
não pode fazer uma regra que coloque a comunidade escolar em risco.
            Por meio da participação no processo
democrático da escola, os estudantes ganham experiência em trabalhar com outras
pessoas para tomar decisões. Eles ganham experiência em defender suas posições
sobre assuntos importantes que afetam sua vida diária. Eles compreendem que
suas opiniões são importantes e que eles podem afetar a comunidade em geral.
O Funcionamento Diário de uma Escola
Sudbury
            Escolas Sudbury funcionam de um modo
muito diferente de outros tipos de escola. Para criar um ambiente em que
estudantes são responsáveis por sua educação, a estrutura da escola tem que
mudar. A diferença mais impressionante é que não há “salas de aula” e que não
há “professores” – pelo menos no sentido tradicional dessas palavras.
Estudantes são livres para determinar como passar o seu tempo a cada dia, eles
não são limitados por uma sala de aula onde um adulto lhes diz o que devem
aprender. Eles podem trabalhar num projeto de arte, praticar esportes, cozinhar,
dançar, ler, conversar com outros estudantes ou com a equipe, construir um
forte, observar pássaros, fazer um experimento científico, subir em árvores,
escrever uma história, jogar um jogo de computador, ou trabalhar com um mentor
de fora do câmpus. Quando os estudantes decidem que querem aprender algo novo,
seja um assunto acadêmico ou não, eles podem tanto pedir ajuda para um membro
da equipe quanto para outro estudante, ou simplesmente aprender sozinhos.
            Semanalmente há uma assembleia, a
Assembleia Escolar, em que a maior parte das questões cotidianas a respeito do
funcionamento da escola é discutida e votada. A Assembleia Escolar funciona
como a Assembleia da Prefeitura de New England. A Assembleia Escolar é
conduzida pelo(a) Presidente da Assembleia Escolar e as atas são feitas pelo(a)
Secretário(a) da Assembleia Escolar. Na maior parte das vezes, o(a) Presidente
e o(a) Secretário(a) são estudantes que foram eleitos por outros estudantes e
pela equipe. Uma pauta é publicada antes da reunião e todos os estudantes e
membros da equipe são bem-vindos para participar da Assembleia. As vozes de
todos nas discussões e os votos de todos nas decisões têm o mesmo peso.
            A Assembleia Escolar é a autoridade
final sobre todos os assuntos relativos ao funcionamento de uma Escola Sudbury
e as únicas exceções são o orçamento anual, a escala de pagamento da equipe,
requisitos para graduação e a política do Câmpus Aberto. Essas questões são de
reponsabilidade da Assembleia Geral. Esta é composta de estudantes, seus pais
ou responsáveis e pela equipe e também funciona no sistema de democracia
participativa. A Assembleia Geral normalmente se reúne uma vez por ano para
aprovar o orçamento do ano seguinte. Ela dá aos pais importante voz em relação
às questões vitais da escola.
            Um dos aspectos mais importantes na
condução de qualquer instituição é o cumprimento das regras institucionais.
Numa escola Sudbury, a Assembleia Escolar é responsável por criar e fazer
cumprir essas regras. Essa responsabilidade é frequentemente delegada a um
grupo menor de estudantes e membros da equipe conhecido como Comitê Judicial ou
CJ. Na maior parte das escolas Sudbury, o Comitê Judicial é composto por dois
Oficiais do CJ, de 3 a 5 estudantes de diferentes faixas etárias e um membro da
equipe. Os Oficiais do CJ são normalmente estudantes que foram eleitos pela
Assembleia Escolar e servem por dois meses. Seu trabalho é garantir que o CJ
funcione sem problemas. Os estudantes de diferentes faixas etárias servem num
esquema de rodízio – parecido com o serviço de júri. A rotatividade do membro
da equipe normalmente é diária.
            Quando um estudante ou um membro da
equipe acredita que uma regra da escola foi quebrada, preenche um formulário de
reclamação do CJ. A reclamação descreve o que aconteceu, onde e quando e aponta
se há testemunhas. O CJ se encontra diariamente e analisa todas as reclamações.
Para cada uma delas, O CJ investiga o incidente, escreve um relatório da
investigação e determina se alguma regra da escola foi violada. Em caso
afirmativo, ele apresenta uma queixa contra a pessoa (estudante ou equipe) que
talvez tenha quebrado a regra. O acusado pode se declarar culpado ou inocente.
Se ele se declarar culpado, o CJ determina a sentença apropriada para a
violação. Se o acusado se declarar inocente, um julgamento é realizado. Assim
como na Assembleia Escolar, cada membro do CJ tem igual direito a voz e voto.
            Uma das reponsabilidades mais
importantes da Assembleia Escolar é escolher a equipe. Isso é feito anualmente
por uma votação que decide quais membros da equipe atual serão recontratados
para o ano seguinte. É uma ideia muito radical essa que permite que os
estudantes ajudem a determinar a equipe da escola, mas que é necessária quando
se dá a eles a responsabilidade real por sua educação. Não existe
responsabilidade parcial. Ou os estudantes são responsáveis ou não são. Ou se
confia neles ou não. Se os estudantes não fossem autorizados a participar na
seleção dos membros da equipe, um dos aspectos mais importantes do ambiente e
do funcionamento da escola seria tirado deles. A mensagem seria que a eles não
é confiada a responsabilidade de tomar decisões realmente importantes.
            Se os membros da equipe não são
responsáveis por direcionar a educação dos estudantes, então eles são
responsáveis pelo quê? Qual é o papel da equipe? Numa escola Sudbury, os
membros da equipe são responsáveis pelo funcionamento da escola. Se espera
deles que sejam modelos de comportamento adulto responsável. Que ofereçam suas
ideias e experiências nas discussões da Assembleia Escolar. Que estejam
disponíveis para os estudantes quando eles pedirem ajuda e orientação. Acima de
tudo, que ajudem a garantir o funcionamento e o sucesso da escola dando
continuidade à comunidade e à cultura da escola.
            Um dos aspectos mais impressionantes
de uma escola Sudbury é a relação entre a equipe e os estudantes. Os membros da
equipe têm altas expectativas com relação aos estudantes. Esperam que eles sejam
capazes de assumir responsabilidades. A equipe interage com os estudantes como
se eles fossem adultos – talvez adultos jovens e inexperientes, mas não menos
adultos. Ela ouve os estudantes.
            Ocasionalmente, os estudantes numa
escola Sudbury decidirão que querem aprender um assunto ou que desejam
perseguir uma carreira profissional ou acadêmica. Quando eles decidem isso, a
equipe está lá para apoiar sua escolha e ajudá-los a alcançar seus objetivos.
Isso pode ser feito pelo ensino efetivo de um assunto, pela recomendação de um
livro ou outro material de referência, pela identificação de um recurso externo
ou pela viabilização de um estágio. Um exemplo disso ocorreu em nossa escola,
com uma estudante que queria claramente se tornar veterinária. Ela abordou a
equipe e perguntou o que ela precisava fazer para entrar numa boa faculdade de
veterinária. A equipe ajudou a estudante a realizar um programa de estudos de
curta duração com um veterinário local. Durante o programa, a estudante visitou
a clínica veterinária durante o horário de aula. Quando o programa terminou, o
veterinário foi muito positivo sobre a experiência e falou que a estudante seria
bem-vinda para voltar para um estágio quando ela atingisse a idade legal para isso.
A chave disso tudo foi que a estudante sabia o que queria. A equipe estava lá
para apoiá-la e encorajá-la em seu caminho, mas não para determinar o seu
caminho.
Resultados de uma Educação Sudbury
            Em razão do Modelo de Educação Sudbury
ser tão diferente de qualquer outra forma de educação, muitas pessoas se
perguntam sobre os resultados de uma educação Sudbury. Especificamente, elas
imaginam se os formandos serão capazes de entrar na universidade ou se serão
capazes de lidar com o mundo “real”. Resumidamente, ao longo da história, os
formandos têm se dado muito bem quando se trata de entrar na universidade. A
Sudbury Valley School tem feito um estudo extensivo sobre seus ex-estudantes[3]. Os resultados de seus
estudos mostram que uma grande maioria (87%) dos formandos continua em alguma
forma de educação avançada: universidade regular, universidades comunitárias,
escolas de artes, institutos de culinária etc.
            Diferente das escolas de Educação
Compulsória, os formandos de uma escola Sudbury não entram numa universidade
com base em seus históricos e suas atividades extracurriculares. Eles entram na
universidade porque tendem a ser muito focados em sua escolha de carreira. Isso
resulta em pedidos de admissão que se destacam da multidão. Estudantes Sudbury
tiveram tempo durante seus anos de ensino médio para investigar diferentes
opções e para descobrir suas paixões.
            Um dos fatos mais impressionantes
descobertos no estudo da Sudbury Valley School a respeito de seus ex-estudantes
foi que 42% dos que responderam à entrevista são ou autônomos ou
empreendedores.[4]
Isso é compreensível dada a filosofia educacional de uma escola Sudbury. Os
estudantes foram capazes de desenvolver seus interesses e suas habilidades para
assumir responsabilidades. Uma vez acostumados a ser responsáveis, é difícil abrir
mão da responsabilidade em favor de outra pessoa.
Conclusão
            Uma das ideias equivocadas em
relação às escolas Sudbury é que elas devem ser fáceis – afinal, os estudantes
são livres para fazer o que quiserem sem um professor para dizer o que devem
fazer. Nada pode estar mais distante da verdade. Uma escola Sudbury é difícil
exatamente pelo mesmo motivo que leva as pessoas a pensar que ela é fácil. Sem
ninguém dizendo aos estudantes o que fazer, eles não têm escolha a não ser
decidir o que fazer por conta própria. Isso é muito mais difícil do que
simplesmente seguir instruções.
            Uma vez que as pessoas tenham
entendido a filosofia Sudbury, elas frequentemente perguntam “por que todo
mundo não manda suas crianças para uma escola Sudbury?” Minha resposta é
simplesmente porque muitos pais não acreditam ou confiam que seus filhos são
motivados para aprender. Eu não sou capaz de contar quantas vezes um pai me
falou: “Isso parece ótimo, mas minha criança iria brincar o dia todo e nunca
aprenderia nada – ela precisa ser pressionada.” Para ser educado, eu não
questiono essa crença. Em minha cabeça, contudo, minha resposta é: “Se sua
criança não fosse motivada, ela ainda estaria deitada no berço, chorando por
comida quando tivesse fome”. A criança teve motivação suficiente para aprender
a andar, comer alimentos sólidos, falar e para desenvolver muitas, muitas
outras habilidades. Seria realmente muito fácil para a criança simplesmente
ficar deitada num berço e chorar por comida, mas ela escolheu o caminho mais
difícil, o de um bebê que decide aprender a se tornar uma criança. Da mesma
forma, as crianças irão escolher o caminho difícil e empoderador que leva da
infância à idade adulta.                              
[1] Deci, E.L.,
& Ryan, R. M. (2002). 
The paradox of achievement: The
harder you push, the worse it gets
. In J. Aronson
(Ed.)
[2]
A Sudbury Valley School e outras escolas Sudbury trabalham com estudantes de 4
a 19 anos de idade [NT].
[3] Greenberg, D., & and Sadofsky, M. Legacy
of Trust: Life After the Sudbury Valley School Experience 
(1992)
(Sudbury Valley School Press; Framingham, MA) pp. 249.
[4] Idem.
 

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